top of page
Foto do escritorAlexsandro Alves de Araujo

Ensaio sobre o poder na perspectiva de Michel Foucault

Alexsandro Araujo


Michel Foucault é amplamente reconhecido como um dos filósofos mais influentes das ciências humanas, sendo notório por sua abordagem crítica às instituições sociais modernas e por sua visão inovadora sobre as relações entre poder e conhecimento. Em sua obra Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões (Foucault, 2012), ele apresenta uma análise aprofundada sobre como as estruturas de poder moldam práticas sociais e o comportamento humano Hoffman (2018).

Baseado no autor, Foucault não se limitou a desenvolver uma teoria do poder; ele preferiu explorar como o poder opera em diferentes níveis da sociedade. Em vez de se restringir a uma visão hierárquica tradicional, na qual o poder é exercido de cima para baixo, ele propôs a ideia de "capilaridade do poder", evidenciando que este se ramifica em todas as direções, estando presente em todas as relações sociais. Para Hoffman (2018), o poder não apenas coage, mas também molda subjetividades, influenciando até mesmo as escolhas aparentemente espontâneas dos indivíduos, influenciando até na forma de se vestir.

[...] imagine uma pirâmide, com um rei no topo, seus ministros no meio e os súditos do rei (o povo) na base. Se o rei emitir um édito, então os seus ministros executarão a ordem, impondo-a aos súditos do rei. Tradicionalmente, o poder tem sido entendido como “estando no topo da pirâmide”; e isso era tudo o que se entendia a seu respeito. Mas Foucault expande (de fato, reconhece totalmente) o que constitui o poder, e mostra como esta visão tradicional pode ser situada dentro de um entendimento mais completo. Ele observou que, na realidade, o poder surge em todos os tipos de relacionamento, e pode ser construído a partir da base de uma pirâmide (ou de qualquer estrutura). (HOFFMAN, 2018, pg. 24).

De acordo com Hoffman (2018), Foucault enfatiza a relação intrínseca entre poder e conhecimento, demonstrando como ambas as forças são utilizadas para controle social por meio das instituições. Essa ideia é concretizada em sua análise dos vínculos entre formas de saber e regimes de poder na modernidade.

Os principais aspectos dos estudos do autor incluem conceitos como “sexualidade”, “loucura”, “poder disciplinar” e “biopoder”.

A relutância de Foucault em criar uma teoria está ligada à sua rejeição de verdades absolutas. Em um de seus cursos no Collège de France, em 1976, ele afirmou que sua investigação não buscava responder definitivamente à pergunta "o que é poder?". Para ele, essa seria uma resposta teórica que encerraria as discussões, o que ia contra seu objetivo de propor análises abertas e contínuas, (Foucault, 2012).


Capilaridade e Microfísica do Poder


Baseado em Hoffman (2018), Foucault desafia o modelo tradicional de poder como sendo algo exclusivamente hierárquico, que atua de cima para baixo. Ele defende que o poder está presente em todos os níveis da sociedade, de maneira microscópica, e que atua em todas as direções, é o que ele chama de: "microfísica do poder".

O autor compara essas dinâmicas a forças físicas, como o magnetismo e a gravidade, que ora se sobrepõem, ora entram em conflito, dependendo do contexto e da força envolvida, ora em conjunto. Por exemplo, um imã que puxa um fragmento de ferro para cima enquanto a força da gravidade o puxa para baixo.

A direção do fragmento vai depender de vários fatores: do tamanho do imã, do tamanho do fragmento e da força da gravidade que também está atuando, e de tantas outras forças sobre o fragmento, de forma convergente ou divergente.

Por exemplo, Hoffman (2018) menciona como as escolhas individuais podem ser influenciadas por normas sociais. Uma pessoa pode decidir usar roupas pretas em um velório, pensando que essa decisão foi espontânea. Porem, se pretendesse ir com uma blusa de cor extravagante, poderia se sentir constrangido pelo olhar das outras pessoas. Ou seja, fatores externos, como convenções sociais ou até mesmo a moda, podem influenciar nessa escolha. Essa perspectiva reforça a ideia de que o poder não age apenas de fora para dentro, mas também através das aspirações subjetivas dos indivíduos.


Poder Disciplinar e Controle dos Corpos


O conceito de "poder disciplinar", central na obra de Foucault, descreve uma forma de poder que se manifesta em diversas instituições modernas, como fábricas, escolas, hospitais e prisões Foucault (2012). Esse poder tem como objetivo transformar os corpos, tornando-os mais úteis e obedientes. De acordo com Hoffman (2028), Foucault explica que o poder disciplinar age diretamente sobre os corpos, tornando-os alvo de técnicas de vigilância e controle. Ele ilustra esse conceito com o modelo arquitetônico do “Panóptico”, criado por Jeremy Bentham, Hoffman (2028).

O Panóptico consiste em uma torre central de vigilância cercada por celas que permitem a observação constante dos prisioneiros, sem que estes saibam se estão sendo observados. Essa incerteza leva os presos a internalizarem o controle, ajustando voluntariamente seus comportamentos (Foucault, 2012, pg. 16).

O “poder disciplinar”, forma moderna de poder que se manifesta em múltiplas instituições da modernidade (fábricas, escolas, hospitais, prisões) produz efeitos sobre os corpos tanto em utilidade quanto em docilidade, tornando-os mais úteis e obedientes.

O poder disciplinar produz tais efeitos elegendo corpos como alvo. Eleger corpos como alvo pode não parecer terrivelmente singular, especialmente à luz da asseveração radical de Foucault de que “o que é essencial em todo poder é que afinal o seu ponto de aplicação é sempre o corpo” (2006a:14, ênfase adicionada). (HOFFMAN, 2018, p. 42)

O poder age sobre as organizações, os espaços escolares, por exemplo, a organização do tempo da produtividade, hora do recreio, do trabalho etc. O poder disciplinar produz conhecimento, o materialismo do poder se dá através das práticas. Estes são os elementos analíticos da investigação de Foucault: formas de saber ou discurso entrelaçadas a instituições e práticas de exercício do poder, Hoffman (2028). O próprio poder é uma prática.

No livro Vigiar e punir, Foucault (2012), aborda sobre o aspecto do suplício como punição sobre os corpos e a questão da vigilância contínua como forma de moldar o seu comportamento. A autor procura mostrar como aquela primeira forma de punição como castigo do corpo foi dando lugar, na modernidade, à segunda forma, calcada na reeducação dos corpos pela vigilância e pela disciplina.


Transformação das Punições


Historicamente, o suplício público era usado como forma de controle, servindo tanto para punir quanto para demonstrar a força do soberano. No entanto, com o avanço da modernidade, métodos mais sutis foram implementados, como o encarceramento e a reeducação. Foucault (2012), destaca que essa transformação reflete uma mudança no foco do poder, que passa a enfatizar a disciplina e a vigilância contínua, em vez da punição física:

“O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos” (Foucault, 2012, p. 16).

Essa mudança demonstra uma preocupação não apenas com a eficiência do controle, mas também com a sua legitimidade social.

De acordo com Hoffman (2018), Foucault também analisa o papel das instituições no fortalecimento das relações de poder. Ele argumenta que espaços como prisões, hospitais psiquiátricos e escolas não apenas refletem as dinâmicas de poder, mas também ajudam a consolidá-las. No caso da psiquiatria, por exemplo, o autor crítica como os tratamentos perpetuam estigmas, tratando os pacientes como "doentes", em vez de analisar suas condições humanas de forma mais abrangente.

Para Hoffman (2018), essa crítica está alinhada ao conceito de "genealogia do saber", no qual Foucault busca desvendar como os saberes científicos e sociais estão interligados com regimes de poder. Ele demonstra que as práticas institucionais frequentemente servem para reforçar desigualdades e normas, moldando subjetividades e legitimando formas de controle.


Sexualidade e Subjetividade


Para Hoffman (2018), no campo da sexualidade, Foucault observa que as normas sobre masculinidade e feminilidade são construções sociais, reforçadas por práticas de coerção e vigilância. Ele destaca que crianças são ensinadas a se comportar de acordo com padrões de gênero, por meio de orientações que moldam seu vestuário, brincadeiras e comportamentos.

No caso da sexualidade, por exemplo, se o senso comum produz uma espécie de conhecimento que é inquestionável, entre a divisão de masculino e feminino, e se essa definição é tão óbvia, por que a criança precisa de coerção e orientação para se vestir, brincar, andar e se portar como menino ou menina? O poder constrange o indivíduo e molda o comportamento: no caso, qualquer desvio de comportamento anexado aos sexos (biológicos) vai ser confrontado com alguma forma de coerção, ou talvez, punição, e o indivíduo vai vigiar o seu comportamento como forma de se evitar qualquer tipo de punição ao seu modo de agir.

Esse processo de moldagem evidencia como o poder opera internamente, levando os indivíduos a vigiar a si mesmos para evitar punições ou constrangimentos sociais. Como no Panóptico, o indivíduo se torna simultaneamente objeto e sujeito do poder, internalizando as normas e ajustando seu comportamento voluntariamente, ou seja, o prisioneiro que vigia a sí mesmo, (Foucault, 2012).


Conclusão


Michel Foucault oferece uma análise inovadora e abrangente do poder, a mostra como ele se manifesta em diferentes níveis e dimensões da sociedade. Sua obra provoca concepções tradicionais, propondo uma visão mais dinâmica e capilar das relações de poder em vez de uma coisa verticalizada que atua de cima para baixo. Para Hoffman (2018), ao conectar poder e conhecimento, Foucault nos ajuda a compreender como normas, instituições e práticas sociais moldam as subjetividades humanas. Sua análise continua sendo uma ferramenta essencial para questionar estruturas de controle e promover uma compreensão mais crítica da sociedade contemporânea.


 

Hoffman, Marcelo. (2018). Michel Foucault: Conceitos fundamentais / editado por Dianna Taylor; tradução de Fábio Creder. Vários colaboradores. Petrópolis – RJ: Vozes.

FOUCAULT, Michel. (2012). Vigiar e punir: História da violência nas prisões. Rio de Janeiro: Vozes.

LEBRUN, G. (2009). O que é poder. São Paulo: Editora brasiliense.

Posts recentes

Ver tudo

Hozzászólások


bottom of page