A REPRODUÇÃO: Bourdieu e Passeron
- Alexsandro Alves de Araujo
- 1 de jun.
- 6 min de leitura

Alexsandro Araujo
De acordo com Nogueira, C. M. & Nogueira, M. A. (2002), a sociologia da educação de Bourdieu apresenta uma análise aprofundada sobre as desigualdades sociais e culturais presentes no sistema educacional. Segundo o autor, a educação não é apenas um meio de ascensão social, mas, pode funcionar também com um mecanismo de reprodução das desigualdades de classe.
Esse ponto é fundamental para entender a abordagem de Bourdieu (2014), sobre a reprodução.
O paradoxo da educação escolar como fator de mobilidade social é que ela reproduz e legitima a ação das desigualdades sociais. Tratando formalmente de modo igual, em direitos e deveres, quem é diferente, a escola privilegiaria, dissimuladamente, quem, por sua bagagem familiar, já é privilegiado. Alice Nogueira; Martins Nogueira (2002, pg. 28)
Segundo Bourdieu (2014), ao analisar as classes sociais, diferente de Marx, o autor entende que há outros tipos de capitais que dão poder e status a certos indivíduos, e que esse poder vai para além do capital econômico. Trata-se de um tipo capital que aufere um poder simbólico a certos atores sociais. O autor apresenta algumas teorias para justificar a sua perspectiva social.
Ele fala sobre as teorias do: “campo”, “classes social”, “habitus” e explica como os outros tipos de capitais “simbólicos”, além do econômico atuam dentro do campo na sociedade e nas instituições.

Segundo Bourdieu (2014), os tipos de capital são: o “social”, o “econômico”, o “cultural”, o “intelectual” e o “político”. Todos esses poderes podem atuar de diferentes formas dentro de um campo. O campo é um lugar cheio de regras e normas: Objetivas e subjetivas onde os atores interagem.
Por exemplo, no campo de futebol há várias regras a serem seguidas para se poder jogar. Todos os jogadores, inclusive o arbitro, os comentaristas de futebol e alguns telespectadores precisam conhecer para entender o jogo.
A falha na leitura das regras do campo, é algo que resulta em uma "dissonância" entre o habitus do indivíduo e o campo em que ele se insere. E é também, passível de punição simbólica, que é a marginalização do indivíduo de dentro do próprio campo.
O conhecimento para se atuar dentro do campo vai depender de outro tipo de capital, que é o “capital cultural”. Esse tipo de capital é o que reforça o “habitus”.
Bourdieu (2014), se refere a “habitus” e não hábito, para diferenciar do senso comum. Hábito é o que uma pessoa pode fazer por costume, por causa de uma rotina.
O “habitus” está relacionado ao “capital cultural”, é o acumulo de capital cultural herdado durante a vida do indivíduo, por meio das experiencias vividas, por exemplo: o tipo de música, a quantidade de viagens, a visita a ambientes culturais, cinema, teatro, bibliotecas etc. Esse “habitus” é construído por meio de êxitos e fracassos nas experiencias pessoais dos indivíduos. E é reforçado por meio da acumulação das experiencias de sucesso e o desprezo das experiencia de fracasso.
Baseado em Bourdieu (2014), por exemplo, se um indivíduo obteve sucesso no meio em que vive, foi por causa do acumulo e da reprodução do “habitus” dentro do seu campo. Que pode ser, musical, intelectual, político, da arte, do entretenimento etc. É quando não há “dissonância” entre o “habitus” e o “campo”. Essa parte da teoria é importante para entender a relação do estudante com a sala de aula.
Para Bourdieu (2014), o sistema educacional é um espaço para alguns estudantes que tem que ser resignificado. Funciona como um campo, o campo educacional, é o local onde poderá haver uma “dissonancia” entre o habitus do esudante e linguagem educacional utilizada. Nessa troca de experiências poderá acontecer algum tipo de violência sobólica que o autor chama de “ábritrario cultural”. E pode ser inclusiva ou excludente para o estudante.

O “capital cultural” de alguns estudantes se chocam por exemplo, com a linguagem escolar, com a linguagem do proprio professor por causa de algun desconhecimento de termos tecnicos da disciplina e com a incapacidade de abstrair sobre o que está sendo ensinado na escola. Como nem todos partem do mesmo ponto isso influencia no seu capital cultural e no seu habitus e faz com que cada estudante tenha uma experiencia diferente.
De acordo com Nogueira, C. M. & Nogueira, M. A. (2002), para alguns, cada passagem de ano é uma ressignificação como se tivesse aprendendo um novo idioma.
Tratar todos como iguais, na verdade, pode não ter nada a ver com igualdade social no eambiente escolar, e sim, pelo contrario, está reproduzindo as desigualdades levando em conta que nem todos temos o mesmo tipo de capital cultural. Nessas condições, alguns estudantes são favorecidos e se encontram em situação de vantagens sobre outros.
A BNCC, enquanto documento normativo, orienta a elaboração dos currículos voltados para a formação integral dos estudantes, possibilitando, no exercício da cidadania, superar as desigualdades sociais que, na atual conjuntura global e local, têm se intensificado sobretudo para as classes menos favorecidas, público prioritário e majoritário na escola pública. (Pernambuco, 2021, Pg. 22).
Ainda, de acordo com Nogueira, C. M. & Nogueira, M. A. (2002):
A linguagem escolar para os alunos de famílias de classe média e ricas seria uma linguagem conhecida, comum ao seu habitus, enquanto que alguns alunos de famílias menos favorecidas sofreriam a confrontação de um arbitrário cultural e isso poderia influenciar nos resultados e nas notas. Nogueira, C. M. & Nogueira, M. A. (2002, Pg. 28)
Nesse aspecto, o professor deve ressiginficar a linguagem e alinhar a a atividade de ensino ao entendimento do estudante, partindo do pressuposto de que alguns podem ter um pouco mais de dificuldades para entender certos conceitos das disciplinas, de sociologia ou outra qualquer. Deste modo, buscar novas formas de falar sobre o mesmo assunto para facilitar o entendimento e porpor novos meios de avaliação que não sejam unicamente a nota ou a prova é uma opção esperançoza.
O uso da pratica de sala de aula invertida pode se mostrar muito eficaz no apredizado da disciplina, tendo em vista que auxilia do protagonismo e na independencia em busca pelo assunto, sendo necessario, em alguns momentos, a comlementação ou correção do professor.
A partir desses conceitos, outra opção seria complementar os temas estudados à imagens, audiovisuais, e o uso de slides e filmes para ressiginificar e contextualizar o entedimento do estudante. O uso da tecnonologia pode se tornar um diferencial em meio a professores que não costumam e não gostam de se utilizar de tais ferramentas na sala de aula.
Isso pode contribuir para maior entendimento das disciplinas para os estudantes do ensino médio e acabar com a “dissonância” no entendmento dos temas porpostos. Evitando um prolongamento do “arbitrario cultural” e o choque cultural entre o aluno e o aprendizado.
Conclusão
A abordagem de Bourdieu sobre a educação revela sua natureza paradoxal: embora institucionalmente defendida como meio de ascensão social, a escola frequentemente atua como mecanismo de reprodução das desigualdades estruturais. Sua teoria evidencia que os diferentes tipos de capital – especialmente o cultural – e o habitus herdado pelas classes sociais mais favorecidas tornam-se ferramentas de distinção e exclusão no campo educacional.
A linguagem da escola, suas práticas e exigências simbólicas não são neutras, mas refletem o arbitrário cultural das classes dominantes, o que gera uma violência simbólica contra os estudantes das camadas populares, cuja trajetória escolar se vê marcada por desvantagens acumuladas.
Como apontam Nogueira e Nogueira (2002), a igualdade formal de tratamento na escola encobre desigualdades reais de condições de partida. A escola, ao não reconhecer e enfrentar essas diferenças, reforça desigualdades sob a aparência da neutralidade pedagógica. Frente a esse cenário, cabe ao professor reconhecer os limites da reprodução e propor alternativas didáticas que levem em conta a diversidade de habitus e capitais culturais dos estudantes.
A utilização de metodologias como a sala de aula invertida, recursos audiovisuais, linguagem acessível e múltiplas formas de avaliação são caminhos possíveis para romper com o ciclo reprodutivo e ressignificar o campo educacional.
Portanto, o desafio ético e pedagógico que se impõe é construir uma prática educativa crítica, inclusiva e consciente das desigualdades que perpassam o cotidiano escolar, na tentativa de romper com o ciclo da reprodução e possibilitar verdadeiras condições de aprendizagem e mobilidade social para todos os estudantes.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, Marco Antonio Chaves. Pierre Bourdieu e a teoria da reprodução. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio Mendes (orgs.). Pierre Bourdieu e a sociologia da educação: questões atuais. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 23-49.
PERNAMBUCO. Base Nacional Comum Curricular de Pernambuco – Ensino Médio. Recife: Secretaria de Educação e Esportes, 2021.
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