Uma análise crítica da administração científica
- Alexsandro Alves de Araujo
- 7 de mai.
- 8 min de leitura
Atualizado: 9 de mai.

Alexsandro Araujo
A Revolução Industrial, ocorrida entre os séculos XVIII e XIX, provocou uma profunda transformação nos modos de produção na Europa. Com a introdução de máquinas a vapor e a produção em larga escala, o sistema de produção artesanal tornou-se obsoleto diante da nova demanda. O antigo artesão foi gradativamente substituído pelas grandes indústrias, tendo que vender sua força de trabalho aos grandes capitalistas industriais.
Todavia, muitos desses trabalhadores não estavam preparados para a nova dinâmica imposta pelas máquinas e pelos ritmos de produção acelerados, e pela demanda crescente por mercadorias, o que comprometia a qualidade do trabalho, devido a falta de costume nas mudanças de produção.

A Teoria da Administração Científica, desenvolvida por Frederick Winslow Taylor no início do século XX, é considerada uma das primeiras tentativas sistemáticas de estudar e organizar o trabalho nas empresas com base em métodos científicos. A proposta central de Taylor era aumentar a eficiência produtiva por meio da análise racional das tarefas e da eliminação de desperdícios da força de trabalho.
Um exemplo simples e didático da aplicação das ideias de Taylor pode ser observado no trabalho de um pedreiro. Imagine que, para erguer uma parede, esse trabalhador precise se agachar a cada vez que vai pegar um tijolo no chão, colocar cimento na colher de pedreiro e assentá-lo na parede. Esse ciclo de movimentos se repete muitas vezes durante o dia.
Segundo os princípios da Administração Científica de Taylor, é possível aumentar a eficiência desse processo ao analisar detalhadamente cada movimento realizado. Ao medir o tempo gasto em cada ação e identificar movimentos desnecessários, torna-se viável propor melhorias. Por exemplo, ao instalar uma bancada elevada ao lado do local de trabalho, os tijolos podem ser colocados em uma altura acessível, eliminando a necessidade de o pedreiro se agachar repetidamente.
Com isso, o número de movimentos por tarefa é reduzido — de três para dois, por exemplo — resultando em menos esforço físico, maior agilidade e aumento da produtividade. Dessa forma, o trabalhador consegue produzir mais em menos tempo e com menor desgaste físico, ilustrando o objetivo do Taylorismo: tornar o trabalho mais racional, eficiente e produtivo.

A Administração Científica baseou-se no conceito Homo Economicus, isto é, do homem econômico. Segundo esse conceito, toda pessoa é concebida como influenciada exclusivamente por recompensas salariais, econômicas e materiais. Em outros termos, o homem procura o trabalho não porque gosta dele, mas como um meio de ganhar a vida por meio do salário que o trabalho proporciona. De certo modo, com a racionalização dos movimentos o individuo passa a produzir mais e consequentemente, como o pagamento é diretamente proporcional a produção, os salários também aumentarão.
O homem é motivado a trabalhar pelo medo da fome e pela necessidade de dinheiro para viver. Assim, as recompensas salariais e os prêmios de produção (e o salário baseado na produção) influenciam os esforços individuais do trabalho, fazendo com que o trabalhador desenvolva o máximo de produção de que é fisicamente capaz para obter um ganho maior. Uma vez selecionado cientificamente o trabalhador, ensinado o método de trabalho e condicionada sua remuneração à eficiência, ele passaria a produzir o máximo dentro de sua capacidade física. (CHIAVENATO, 2003. Pg. 9).
Na perspectiva de Michel Foucault, a administração científica proposta por Frederick Taylor é um programa disciplinar.
A administração cientifica é manifestamente disciplinar neste objetivo geral de aumentar a eficiência. (HOFFMAN, 2018, p. 52).

Na perspectiva de Hoffman (2018) apud Foucault, Taylor tira a autonomia do trabalhador sobre o seu trabalho e passa para um administrador, privando-o de qualquer papel de planejamento e controle do seu tempo e ele se torna exclusivamente disponível ao trabalho. Se torna disponível a um “poder” disciplinar capaz de docilizar e tornar os corpos uteis, (dóceis). Foucault, entretanto, não cria uma teoria do poder, ele não gosta que chame o seu conceito sobre poder de “teoria” e sim em termos de uma análise do poder.
Foucault não gostou do termo “teoria”. Ele observou em La volonté de savior que o objetivo das investigações que se seguirão é mover-se menos na direção de uma “teoria” do poder do que na direção de uma “análise” do poder [...]” (1990ª:82). (HOFFMAN, 2018, p. 25).
Taylor pretendia aumentar em quase quatro vezes a produção sem que pudesse causar uma greve entre os operários. Ele dá início selecionando 75 operários dentro da empresa e, desses, afunilar a seleção até chegar nos quatro mais aptos, apara aumentar a produção de ferro gusa, de 12,5 para 47 toneladas por dia.
A primeira ilustração de Taylor vem da sua experiencia de tentar aumentar a quantidade de ferro gusa carregada na Bethlehem Company: de 12,5 toneladas para 47 toneladas por trabalhador por dia. Taylor relata que ele buscou aumento de quase quatro vezes do trabalhador sem, ao mesmo tempo, provocar a sua resistência. (HOFFMAN, 2018, p. 52)
Nessa operação de verificação da aptidão dos melhores funcionários Taylor leva em consideração os, hábitos, o caráter, capacidade física de manusear o ferro e a propensão de aceitar o desafio.
Os homens foram entrevistados, analisados diariamente durante três dias e se chegou à escolha dos quatro mais aptos para dar início a experiência de Taylor.
“Ao lidar com operários sob esse tipo de gestão, é uma regra inflexível conversar, e lidar com apenas um homem de cada vez”, (TAYLOR, 2018. pg.53).

Taylor individualiza a entrevista como forma de um funcionário não influenciar na decisão do outro. Após a seleção minuciosa é escolhido um dos quatro, que será o mais apto de todos e servirá como um modelo para o restante dos operários.
O operário escolhido foi apelidado de “Schmidt”, “um pequeno holandês da Pensilvânia (1967)”.
Schmidt foi convencido do seu potencial e da sua capacidade diferenciada e com isso ele poderia aumentar mais ainda o seu salário, desde que fosse obediente ao seu gestor, quando fosse dito para descansar, trabalhar, beber água etc. Este trabalhador deveria obedecer fielmente a todo dia, e mais, sem reclamações.
Bem, se você é um homem de alto preço, você fará exatamente como esse homem lhe disser amanhã, desde a manhã até a noite. Quando ele lhe disser para pegar um lingote e andar, você o pega e anda, e quando ele disser para se sentar e descansar, você se senta. Você fara isso direito o dia todo. E mais, sem reclamações. Ora, um homem de alto preço faz exatamente o que lhe é dito para fazer, e sem reclamar. Você entende isso? Quando este homem lhe disser para andar, você anda: quando lhe disser para sentar, você senta, e não reclama com ele (1967:45-46). (HOFFMAN, 2018, p. 54).
Foi aumentado o incentivo com o aumento no salário de $1,5 por dia para $1,85 desde que fosse estritamente obediente. Schmidt foi convencido de que era um homem de valor diferenciado e que era diferente da maioria dos operários e isso o tornava mais valioso, todavia, ele teria obrigatoriamente de agir como tal. Daí relata um relacionamento disciplinar entre o aumento da utilidade e o aumento da obediência.
O sujeito foi bem-sucedido no seu aumento de 12 para 47 toneladas de ferro, e sob uma supervisão ele continuou por três anos consecutivos, até o fim da experiência.
Para (Chiavenato, 2003): “A administração científica pretendia racionalizar os movimentos, eliminando os que produzem fadiga e os que não estão diretamente relacionados com a tarefa exercida pelo trabalhador”. Contudo, esse tipo de artifício administrativo só serviu para o período inicial da industrialização.
A criação de novos métodos como o de Taylor ajudou no aproveitamento do tempo e dos movimentos e aumentou a produção gerando mais salários, tendo como referência o trabalhador ideal, Schmidt, contudo, passaram a existir outros problemas em relação a questão da satisfação pessoal no trabalho.
Com o tempo o funcionário passa a não ver mais satisfação nas tarefas e, com a fragmentação no processo de produção o produto se torna uma coisa alheia ao trabalhador.
Em Marx (1982), o trabalho absorve natureza humana, portanto, quanto mais o homem trabalha, mais ele esvazia de sua humanidade, ficando, pois, mais pobre. A alienação, num primeiro momento, é parte inerente a este ciclo: o ser humano separa-se de si e se projeta no produto do seu trabalho; sua natureza se materializa no produto do trabalho.
Quando o homem é separado do fruto do seu trabalho, a alienação desumaniza o homem. Nesta circunstância, não basta aumentar o salário, pois o dinheiro é uma mercadoria que não contem a natureza humana que se materializou. Dito de outra forma: como ser livre, o homem se realiza no trabalho. Mas quando este trabalho é feito por necessidades externas, o homem que trabalha é utilizado como meio para um fim. Se o produto não volta a ele, mas ambos são separados, o trabalho e o homem se tornam alienados. Esse, segundo a interpretação de Marx, é o caso do capitalismo, onde a relação cíclica homem-trabalho-natureza-produto-homem sofre uma interrupção porque, na forma da apropriação da mais-valia, a exploração subtrai parte da vida do ser humano que ali deveria se reproduzir em plenitude. (SOBOTTKA, 2015, p. 112)

O trabalhador, de certa forma perde a sua identidade e a satisfação no trabalho, pois, não é mais reconhecido como produtor nem coloca a sua capacidade de produção em pratica e agora só conhece uma parte do processo de produção. Ele deixa de se fazer presente na essência do produto fabricado, pois não usa mais a sua arte e conhecimento para produzir uma coisa, e sim, só uma parte dela, uma vez que o trabalho passou a ser uma coisa fragmentada. Quem compra não se reconhece[1] no trabalho do outro, não existe mais uma manifestação de vida individual de um ser verdadeiro, o ser humano.
A escola de Administração Cientifica trouxe a sua contribuição inegável num momento em que a Revolução Industrial se encontrava em grande efervescência. Sem dúvida alguma, ela atendeu a necessidades básicas do homem em termos de prover maior conforto físico na organização do ambiente de trabalho e maior segurança pelo pagamento por peça. Seu autor não teve, todavia, tempo suficiente para ir mais a fundo quanto ao exame dos motivos intrínsecos e de ordem mais intima daqueles que passam a maior parte das suas vidas dentro do seu ambiente de trabalho, (BERGAMINI, 2011, p. 13).
Sem dúvidas Taylor contribuiu de forma considerável para o fomento da administração contemporânea, contudo, vale ressaltar que os métodos utilizados não levaram em consideração fatores de ordem social e psicológicos.
Apesar dessa limitação aos aspectos formais, isso não quer dizer que a Teoria Clássica esteja completamente errada ou que tenha de ser totalmente substituída, mas que tratar uma organização como simples mecanismo produz resultados não previstos pela Teoria Clássica".
Em outros termos, a abordagem está simplificada e incompleta, pois não considera o comportamento humano na organização. Mesmo Urwick e Gulick, quando escreveram suas obras, já conheciam os resultados da experiência de Hawthorne, que inaugurou a Escola das Relações Humanas e mostrou o componente humano dentro das organizações. Porém, preferiram manter a posição ortodoxa da Teoria Clássica. (CHIAVENATO, 2003, p. 90).
A Teoria da Administração Científica de Frederick Taylor representou uma ruptura com as formas tradicionais de organização do trabalho, oferecendo, no contexto da Revolução Industrial, uma resposta pragmática à necessidade de aumento da produtividade nas fábricas.
Ao sistematizar métodos baseados na racionalização dos movimentos e na maximização do desempenho individual, Taylor estabeleceu fundamentos importantes para a gestão empresarial moderna. No entanto, essa ênfase quase exclusiva na eficiência mecânica e na obediência cega ao gestor ignorou aspectos fundamentais da experiência humana no trabalho, como o sentido, a autonomia e do saber fazer.
Como apontado por Foucault, a transferência do controle do trabalhador para a figura do administrador instaurou uma lógica disciplinar que visava docilizar os corpos e torná-los meramente funcionais, ao passo que, à luz de Marx (1982), essa organização do trabalho aprofunda a alienação do trabalhador, afastando-o do produto de sua própria atividade e, portanto, de sua humanidade.
Embora tenha atendido a demandas econômicas imediatas do capitalismo industrial, a Administração Científica desconsiderou fatores psicológicos e sociais essenciais à realização humana no trabalho.
Assim, sua principal contribuição foi também sua maior limitação: ao tratar o trabalhador como uma engrenagem substituível, promoveu a produtividade às custas do tempo, da vida e do bem-estar do indivíduo.
BIBLIOGRAFIA
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
GRENFELL, M. (2018). Pierre Bourdieu: Conceitos fundamentais. Petropolis: VOZES.
HOFFMAN, M. (2018). Michel Foucault: Conceitos Fundamentais. (D. TAYLOR, Ed., & F. CREDER, Trad.) Petropolis: VOZES.
HONNETH, Axel. Teoria do reconhecimento. São Paulo: Editora Unesp, 2003.
Marx, K. (1982). O capital. Rio de Janeiro - RJ: Zahar Editores S.A.
SOBOTTKA, E. A. (2015). RECONHECIMENTO: Novas abosrdagens em teoria crítica. Sâo Paulo: ANNABLUME.
[1] Ibid. (HONNETH, 2003, p. 232), Reconhecimento em Marx.
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