
Alexsandro Araujo
De acordo com Sandel (2020), em 2019 trinta e três famílias ricas dos Estados Unidos – EUA, foram processadas por envolvimento em um esquema que fraudava a entrada de seus filhos em universidades de elite, como Yale, Stanford, Georgetown e a Universidade do Sul da Califórnia.
Segundo Sandel (2020), Willian Singer, um consultor educacional, administrava uma empresa especializada em favorecer a entrada e fornecer credenciais para alunos não muito brilhantes, mas que, de certa forma, seus pais tinham condições de lhes proporcionar, por intermédio do pagamento de propinas, os seus acessos. Por exemplo, Singer recebia a propina dos pais, pagava aos inspetores dos exames de seleção, como SAT e ACT: exames parecidos com o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, necessários para se ter acesso às universidades.
O esquema também envolvia os treinadores para que indicassem alunos como atletas recrutados, fornecendo credenciais falsas e fazendo até montagens em photoshop. Esse esquema cobrava valores exorbitantes em torno de US$ 75 mil, para facilitar o ingresso dos filhos de pais ricos. Entretanto, havia outros alunos, segundo Sandel (2020), os quais as universidades admitiam também porque seus pais pagavam, sendo que não por meios fraudulentos e sim porque seus pais doaram grandes quantias, de modo que a universidade dava oportunidade a esses alunos.
Sandel (2020), chama de entrada pela porta dos fundos esse tipo modalidade, enquanto que a propina seria a entrada pelas portas laterais, ademais, a entrada pelas portas da frente seria realmente relacionada a meritocracia.
Entretanto, para o autor, a entrada pelas portas da frente, por meio da "meritocracia", de certa forma, também está relacionada à curadoria dos pais em relação a preocupação e o cuidado para que estes tenham o melhor preparo para conseguir as vagas.
Nas palavras de Sandel (2020):
A nota do SAT vem no rastro da renda familiar. Quanto mais rica for a família de um ou uma estudante, mais alta provavelmente será a nota dele ou dela”, “[...] em Princeton e Yale há mais estudantes no 1% mais rico do que entre os 60% da base do país”. (SANDEL M. J. 2020, p. 19).
A diferença estaria em que a entrada pelas portas laterais seria ilegal, por se tratar de fraude, enquanto que a entrada pelas portas dos fundos não, pois o dinheiro recebido seria para melhorar a educação e a universidade.
Legalidades à parte, Sandel (2020), pergunta: “por que famílias ricas se preocupam tanto em gastar grandes fortunas e se arriscam para que seus filhos tenham acesso a estas universidades?
Críticos indicam essa desigualdade como prova de que a educação superior não é a meritocracia que afirma ser. Desse ponto de vista, o escândalo do ingresso em universidades é uma situação especifica dentro da mais ampla e difusa injustiça que impede a educação superior de se adequar aos princípios meritocráticos que professa. (SANDEL M. J. 2020, p. 19).
Para as elites economicas, não existe somente o medo de cair socioeconomicamente mas, também, a preocupação de se manter nos estratos mais altos, por isso, o cuidado com a educação em boas universidades e instituições, para manter o credencialismo. De acordo com Souza (2019, p. 196), o número de pretos e pardos no Brasil nas universidades subiu de 3 para 8 milhões entre os anos de 2003 a 2016.
De acordo com Sandel (2020, p. 19) “Em busca de evitar a perda de vagas, pais e mães ficaram intensamente envolvidos na vida de filhos e filhas – gerenciando o tempo, monitorando notas, orientando as atividades e sendo curadores de qualificações para a universidade”.
Para Souza (2019), o patrimônio das elites é econômico, e é passado por meio de heranças, enquanto que o patrimônio da classe média é a educação, que também é passado para as próximas gerações como herança, um meio de garantir o futuro, todavia, políticas educacionais e programas de bolsas de estudos e cotas para alunos afro-descendentes tem incomodado essa realidade.
No Brasil, as políticas educacionais de inclusão para alunos afro-descendentes, oriundos de escolas públicas e de baixa renda são regulamentadas principalmente pela Lei nº 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas. Essa legislação determina que 50% das vagas em instituições federais de ensino superior sejam reservadas para estudantes que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas. O que inclui, renda familiar e critérios Étnico-Raciais.
O medo de que o filho do porteiro ou a filha da empregada doméstica tomem as vagas que culturalmente pertenciam à classe média incomoda demais o status quo e a estabilidade das elites. Por isso há constantemente a preocupação com as políticas de ações afirmativas e de cotas.
DEFINIÇÕES

b) Fluxograma das disposições de mobilidade social


Indicação de filmes:

Que Horas Ela Volta? (Full HD 1080p). YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MfBSs8XVOf0. Acesso em: 22 jan. 2025.

EDUCAÇÃO AMERICANA: fraude e privilégio. Direção: Chris Smith. Produção: Netflix. Estados Unidos: Netflix, 2021. 1 filme (100 min), son., color.
BIBLIOGRAFIA
SANDEL, M. J. (2020). A TIRANIA DO MÉRITO: O que aconteceu com o bem comum? Rio de Janeiro - RJ: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA.
SOUZA, J. (2019). A elite do atraso. Rio de Janeiro - RJ: ESTAÇÃO BRASIL.
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