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Resumo do artigo: Minoritização, religião pública e populismo religioso no Brasil de Joanildo Burity


Alesandro Araujo.

 

O texto aborda a assimetria da participação religiosa na política brasileira, tendo a religião católica como a religião majoritária, e luta por ocupação dos espaços políticos pelos evangélicos protestantes ao longo de quatro décadas. Burity discute o surgimento da “bancada protestante” e suas demandas na política nacional, analisando sua trajetória ascendente desde os anos 1980 até as eleições de 2022, por meio do conceito de “minoritização”.

Baseado em Burity (2024), “minoritização” refere-se ao processo de afirmação coletiva de uma minoria, no qual os evangélico-pentecostais buscam reconhecimento político e social. Parafraseando o autor, esse fenômeno desafia o status quo no cenário político brasileiro e promove a inserção de outros grupos sociais com interesses políticos.

Nas palavras de Burity (2024, p. 12):"Isso implica tanto o favorecimento da participação de outras religiões quanto a de setores da política institucional, da intelectualidade, dos movimentos sociais e da mídia no Brasil, como um movimento favorável para as lutas por participação desses grupos."

O autor se refere à emergência de um campo pentecostal que rompe com a ordem política estabelecida e transforma essa minoria religiosa em protagonista na luta por espaço, buscando se estabelecer como uma religião pública. Ao mesmo tempo, assume um papel no projeto de criação de um "novo conceito de povo", alinhado a valores conservadores.

Burity usa o termo “religião pública” para se referir ao processo pelo qual, anteriormente, o catolicismo era considerado, como a religião e cultura predominante, vendo o Brasil como uma “nação católica”, enquanto a “minoritização” protestante busca participar da política, reivindicando esses espaços (Burity, 2024, p. 16).

Na perspectiva de Burity (2024), a Igreja Católica teve participação em vários momentos importantes na política brasileira, e é reconhecida tanto nacional quanto internacionalmente. O autor cita a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a própria Igreja Católica como uma instituição global (Burity, 2024, p. 16), o que sempre impactou na visibilidade e participação política.

De acordo com o autor, "A partir dessa percepção, de ausência no cenário político, ocupado pela igreja Católica, os evangélicos buscam se posicionar e se apresentar como opção de reliçião pública", apresentando suas pautas conservadoras. (Burity, 2024, p. 16, apud Burity, 2015a, 2023; Montero, 2016).

Burity (2024) também argumenta que o populismo no Brasil adquire uma dimensão religiosa, com evangélicos se apresentando como representantes de uma "maioria cristã" moralmente superior, enfrentando a esquerda e outros setores minoritários.

No entanto, para o autor, embora o campo evangélico-pentecostal esteja associado à direita, nem todos os evangélicos votam exclusivamente em partidos de direita. Historicamente, alguns evangélicos votaram em Lula, tanto em 1989 quanto em eleições posteriores, incluindo apoio à presidenta Dilma Rousseff antes de seu afastamento, em 2018.

A “religião pública” traz para a política brasileira a linguagem, a performance e a corporalidade do pentecostalismo. Embora esse movimento, sem uma socialização política de elite, tenha aprendido a atuar politicamente por "bricolagem", usando o que já existia no cenário político. Isso faz com que o movimento evangélico acabe se contaminando com a tradição política dominante, reforçando o status quo (Burity, 2024, p. 18).

De acordo com Burity (2024), o populismo religioso no Brasil se fortalece com a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro, que estabeleceram uma aliança com lideranças evangélicas e grupos conservadores, promovendo discursos nacionalistas e moralistas.

O autor destaca que, em 2002, Lula estabeleceu um acordo com a Igreja Universal, por meio do Partido Liberal (PL), trazendo José Alencar, empresário católico, para ser seu vice, o que inseriu a Igreja Universal no centro da política presidencial. Isso foi um marco para a emergência do "populismo religioso" (Burity, 2024, p. 21).

Durante a campanha de Dilma Rousseff, a ex-presidenta comprometeu-se a não alterar a legislação sobre o aborto, em resposta às demandas evangélicas e católicas. Esse movimento consolidou alianças com lideranças evangélicas no Congresso, como a de Jair Bolsonaro, e figuras como o pastor Marco Feliciano (Burity, 2024, p. 21).

No entanto, Burity observa que, embora os evangélicos tenham se aproximado da direita, eles mantinham certa aliança com Lula até o processo de impeachment de Dilma, quando líderes como Eduardo Cunha, também evangélico, assumiram um papel de destaque na derrubada da presidenta.

O autor conclui que a "minoritização" evangélica e a emergência da religião pública transformaram os evangélicos em um grupo influente na política brasileira, com uma agenda conservadora e populista que se apresenta como alternativa à esquerda brasileira.


BURITY, Joanildo. Minoritização, religião pública e populismo religioso no Brasil. REVER: Revista de Estudos da Religião, São Paulo, v. 24, n. 1, pp. 11-27, 2024.

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